Vergonha


















Imagine que você trabalha em uma fábrica na qual praticamente toda a produção sai defeituosa. Avaliação após avaliação, o produto que você produz é constantemente bombardeado. Ele não é apto nem para as funções mais básicas para as quais foi fabricado. 

Você vive reclamando do salário, do ambiente de trabalho e é plenamente consciente de que existem formas muito mais eficientes de exercer sua função. Mas nenhuma delas é posta em prática na fábrica onde você atua. Sua auto-estima é baixa, seus colegas vivem reclamando. E, o que é pior, você sabe que existem fábricas produzindo bem melhor e com muito mais alegria que a sua e os produtos deles dão um banho no seu. 

Deu para imaginar o cenário? 

Agora imagine que uma pessoa vem questioná-lo sobre sua satisfação com esta fábrica e VOCÊ RESPONDE QUE ESTÁ SATISFEITO!!!!!!!

Essa foi exatamente a resposta dos professores brasileiros na pesquisa da Veja sobre o índice de satisfação com as escolas públicas. 

Que o pais tenham se considerado satisfeitos, é compreensível. Eles comparam com a escola que tinham (ou que nunca tiveram) e, sem parâmetros melhores, acham que está tudo bem. Agora, os professores, agentes atuantes no processo de formação dos piores alunos do mundo, dizerem que estão satisfeitos é caso de polícia. Desculpem a sinceridade, mas este índice de satisfação, para mim, é um atestado de conivência com um sistema cruel de emburrecimento coletivo. 

O mínimo que se espera de um professor no Brasil é vergonha. Da situação. E na cara. 

Comentários

Renata Rainho disse…
Nossa marvilhoso seu texto, não leio a Veja mas pelo seu texto entendi do que foi o texto. O que acho pior é que muita gente os acha uns coitados, se eles são tão bons porque escolheram dar aula lá?

Conheço muita gente, até da minha família, que deixou emprego público e foi bater perna em empresas privadas e óbvio estão muito mais ricos e felizes !
Anônimo disse…
Oi Renata, existem países em que ser professor do sistema público é algo disputadíssimo e apenas os melhores e mais dedicados conseguem. A Finlândia é um exemplo comumente citado hoje em dia.

Infelizmente, no Brasil, virar professor é uma das últimas opções. Uma pena, pois uma profissão tão fundamental para a sociedade acaba virando saída para quem não consegue emprego melhor. É claro que há gente muito boa atuando, gente com vocação e força de vontade. Mas eles são poucos e atuam, muitas vezes, sem o suporte necessário para enfrentar os inúmeros desafios. Muitos, como você mesma aponta, acabam desistindo.

Eu entendo todas as dificuldades e problemas que nossos professores enfrentam. E respeito muito quem opta por exercer essa profissão. Só não consigo entender como eles se dizem satisfeitos com uma escola de tão péssima qualidade, que forma alunos incapacitados para realizar as as funções mais básicas como matemática e interpretação de texto.

A impressão que dá é que, na verdade, eles não se dão conta do que estão fazendo e nem da responsabilidade envolvida. E isso, vindo de um professor, assusta.

Seja bem vinda ao Ombudsmãe!
Ana Cláudia disse…
Taís, eu acho que isso é uma constante to serviço público como um todo. É a merda da estabilidade e da falta de avaliação por mérito.