Hoje é dia de feira.



Quando eu era pequena, adorava ir à feira com meus avós. Uma das minhas principais lembranças era a forma íntima e carinhosa com que eles se relacionavam com os feirantes. Eram muito queridos por todos e com isso, conseguiam crédito e a melhor mercadoria. Me lembro que o verdureiro escondia a alface debaixo da barraca para que minha avó pudesse escolher as mais bonitas. E no final eu sempre tomava garapa (caldo de cana em ribeirãopretês), servida em cones de papel, e um pastelzinho.

Fui crescendo e, aos poucos, me afastando da feira. Entraram em cena os supermercados, os sacolões e outras formas mais "modernas" de comprar frutas e hortaliças, nem sempre tão fresquinhas.

Voltei a frequentar a feira há alguns anos. Sou fã incondicional. Adoro o clima de informalidade, a alegria e o colorido das barracas. Além da mercadoria ser melhor e ter sempre mais opções de escolha, lá eu desconto cheque, compro no fiado, sou chamada pelo nome e sempre recebida com festa.

Mas, de longe, o que mais gosto na feira, é da conversa dos feirantes. Tem causos divertidíssimos como este que escutei ontem e que jamais, em hipótese alguma, teria sido contado em um supermercado:

Uma freguesa perguntou ao dono da barraca de legumes onde estava a esposa dele.

Ele respondeu sem a menor cerimônia e com um delicioso sotaque do interior da Bahia: "Ontem à noite eu tive um sonho daqueles horríveis. Tinha um sujeito agarrado no meu saco. Ele puxava com tudo e nada fazia o cara me soltar. Eu fiquei desesperado e meti-lhe uma mordida para ver se ele me largava. Acordei com o grito assustado da minha mulher. Não é que, dormindo, eu preguei os dentes nas costas da coitada?! Ficou até a marca. O susto foi tão grande que ela teve uma crise de pressão alta e está internada. Quando acabar a feira eu vou buscá-la no hospital."

As pessoas me perguntam onde acho minhas histórias. A verdade verdadeira é que as histórias é que me acham.

Comentários

Vanessa Anacleto disse…
Ah, eu tb tenho essas lembramças da feira que ia com minha avó desde muito pequena. Não fico sem feira até hoje, adoro o burburinho e as coisas fresquinhas.

bjs
Anônimo disse…
Tais feira tem mesmo esses achados...
Outro dia fui levar o meu filhote pela primeira vez na feira, na hora da xepa, estávamos nós, eu e ele (aquele serzinho até outro dia enclausurado) no meio do griteiro me olhando assustado em frente a uma barraca quando eu perguntei calmamente ao feirante:
qual o seu nome? Que me respondeu depois que eu repeti a pergunta umas 3 vezes e percebeu que tinha uma criança no colo. Expliquei para o Paulo que o Chico estava gritando para falar para todo mundo como as frutas deles eram ótimas e bem baratas e por isso estávamos comprando... Ele me respondeu com um "Ah tá!" fizemos a compra, tomamos e garapa e ele dormiu antes de chegar em casa!
Uma delícia, beijos Dri e tutu.
silkelita disse…
É isso aí!
Moça bonita não paga.
Mas tb não leva.

bjs
VovóMadô
Anônimo disse…
Doces lembranças.
Na minha infância não tinha feira. Nasci e morei até adolescente, onde se plantava e colhia para levar até a panela. O que não tinha trocava com a vizinhança. No máximo idas ao armazém para o mais básico e faltante.
Quando me mudei pra "capitar" encarei uma feira das grandonas bem perto de onde eu morava. Olhos e ouvidos arregalados pra absorver aquilo tudo. Em um daqueles sábados o menino magrelinho chegou perto de mim :
Carret'tia?
Ele precisou repetir umas 5 vezes até que uma compadecida senhora veio em meu socorro e traduziu:
Ele quer saber se você quer que ele carregue sua sacola.
Jamais vou esquecer isto, que é a tradução dessa mudança de cidade miúda para cidade grande, onde se fala cantado e roído.
Vez em quando me dá umas ganas de pastel de feira. Fico nas ganas, que a saúde não me permite esse excesso, mas é a glória aquela fumacinha saindo à primeira mordida, não é, não?
beijos.
Graziela disse…
Tais adoro a forma como voce escreve e completaria dizendo apenas que seus ouvidos sao perceptiveis as historias e ai elas veem ate voce.
Um abraco
Gra
Andrea disse…
Eu também adoro feira. Vou toda a semana e já fiquei também amiga dos feirantes.

É muito gostoso ser recebida com festa, eles separarem a melhor fruta/verdura pra você, aquele clima de simpatia total! :)

Adoro feira!!!
Anônimo disse…
Clarice, eu também estranhei os meninos carregadores da cidade grande. Achava que eles sairiam correndo com minha compra na primeira oportunidade. Olha que desconfiada! Hoje não os uso mais porque herdei um carrinho de feira da minha irmã, que mudou-se para o exterior. Mas nenhum nunca sumiu com minha compra, hehehe. E o pastel...amo!!! De vez em quando sucumbo, e tem que ser com Guaranita, que é um guaraná local delicioso servido em garrafinhas caçulinha de vidro. As crianças deliram!

Graziela, pois é, acho que as histórias acontecem com todos. Só que alguns as registram. Eu gosto de registrar as minhas e as que me contam. Tem coisas impagáveis, que não deviam ser esquecidas.

Andréa, pois é, acho que na feira a comida vem com vibrações mais alegres. Que viagem, não? Mas é gostoso pensar assim enquanto o tomate derrete na panela.

Bjs
Renata Rainho disse…
Vc deve ser tipo eu : adora uma boa história e dá tempo pras pessoas contarem...