"Mãe, você é uma vadia!"




"Mãe, você é uma vadia!"

O pequeno entra na cozinha zangado: “Mãe! Você desligou meu Wii. Eu vou ter que fazer toda aquela fase de novo...SUA VADIA!”

A mãe recebe as palavras como uma bofetada. Pisca. E na velocidade daquela piscada, tenta controlar toda a mágoa que a impele a quebrar os dentes de leite que ainda restam na boca daquele ser raivoso de um metro e vinte.  

Respira fundo e quando reabre os olhos diz com toda a calma que lhe resta:

“Você sabe o que esta palavra significa?”

O menino olha para o chão envergonhado e responde baixinho: “Não.”

“É uma palavra muito ofensiva e estou me sentindo mal por você ter me chamado assim. Você não devia tratar as pessoas deste jeito.”

“Desculpa.”

“Vadia é uma mulher que transa com muitos homens. Eu sou uma vadia?”

Mais encabulado ainda, o menino murmura: “Não!”

“Pois é...então não chame mais as pessoas de nomes ofensivos. Ainda mais se você não sabe o que significam. Você pode estar dizendo coisas que as deixam muito, muito magoadas e com raiva. Você ficou bravo por causa do videogame mas podia ter conversado comigo de outro jeito.“

“Eu sei...desculpa”

A conversa se desenvolve mais um pouco e logo cada um parte para um lado.

Mais tarde, ela reflete sobre o ocorrido. Como toda mãe que se preza, o pensamento se enche de culpa e de dúvidas.

'Será que agi certo? Explicar que vadia é mulher que transa muito?! Onde eu estava com a cabeça...vadia também pode ser alguém que não gosta de trabalhar...ah, pera aí também não precisa ser tão inocente...

Que mundo é esse que um pequeno não sabe o que é vadia, mas entende perfeitamente o que é transar com um monte de homens?

Além do mais, e daí se uma mulher transa com um monte de homens...nem por isso pode ser chamada de vadia. Aliás, sorte dela! Não...não posso dizer isso para um garoto de 8 anos. 
Ah, mas espera ele fazer 16. Talvez 14. Ou 25...vai saber.

Ô minha mãezinha...no tempo em que piranha era peixe e tijolada na boca era corretivo, era bem mais fácil. Mundinho complicado esse que fui ser mãe!'

Um barulhinho repetitivo a tira do devaneio. 

"Vou ter que falar quantas vezes que é pra sair do videogame?! Quer que eu mesma desligue?"


Comentários

Amanda disse…
Oi Tais! Sempre leio seu blog, mas nunca comento. Esse post me fez lembrar quando eu mesma ainda era um pingo de gente e chamei minha mãe de "piranha" em um surto de raiva. Eu, na época, não sabia como expressar minha raiva. Foi assim que consegui mostrar que estava magoada com algo. Ela, na época, reagiu muito mal. E eu continuei sem saber como agir em minhas raivas, por muito tempo, até que a vida foi ensinando. Ela não conseguiu me ensinar a reagir melhor. Depois de muito tempo, eu já crescida, ela ainda veio retomar isso, como se fosse algo que eu tivesse dito de forma muito consciente... Uma pena, ela não entendeu. Você fez muito bem em fazer seu filhote refletir, explicar como você se sentiu e mostrar pra ele que existem outras maneiras de se expressar. Também acredito que esse seja o melhor caminho. Grande beijo!
Dani Brito disse…
Talvez nossas mães não tenham sofrido tanto com a corrosiva culpa por causa de seus métodos corretivos, não?

Adorei, como sempre.
Tais Vinha disse…
Oi Dani, as mães de antes não sofriam tanto culpa porque elas botavam a culpa na gente... hahahahaha!

Amanda, mas que é difícil é...nosso impulso é dar o troco. Mesmo que seja numa pulguinha topetuda que não tem idéia do que diz. Manter-nos firmes no papel de adulto da relação leva muito treino e reflexão. Via de regra, agimos de forma tão infantil como eles. Mas vc disse o certo, a dona Vida completa o que nós mães não pudemos suprir...Bjs!
Tais Vinha disse…
Recebi este comentário da Silvia por email. É tão engraçado que resolvi compartilhá-lo. Difícil seria explicar este significado do termo em questão. Bjs!

"Fui atrás de definições... hahhahaah

As Vadias são uma certa variedade de mulheres que têm por função principal terminar feroz e bruscamente com todas as suas reservas financeiras. O dinheiro é sempre seu objetivo e sua razão de existência. Para isso, utilizam de artimanhas que de uma maneira ou outra vão fazer você gastar seu rico dinheirinho. Em troca de dinheiro, elas podem te oferecer até mesmo uma noite de sexo (ou não).

Origem

Vadia-mor Cleópatra, compositora do hino das vadias, "my humps".
Os povos primitivos contam que desde os tempos mais remotos já existiam vadias. Talvez a vadia mais antiga seja Maria Luísa Bavaresco. Eram muito populares na Europa, no Egito também. Considerada a vadia-mor do mundo, Cleópatra foi uma das mais famosas e bem-sucedidas vadias por ter conseguido todo o dinheiro que pertencia aos faraós apenas para gastar em futilidades como pintar os olhos e comprar leite de cabra. Naquela época Cleópatra compôs a canção "my humps", que até hoje é o hino das vadias contemporâneas.

FONTE:http://desciclopedia.ws/wiki/Vadia
Unknown disse…
OI, querida. Saudade dos seus posts.
Pô, lendo eu pensei tb, e qual o problema de transar com vários caras? Se ela faz por vontade... O que é de gosto, regalo da vida (ixi, é assim a frase?! rsrs) Mas entendendo muito o dilema. E mãe teu nome é culpa né? Mesmo que não haja cobranças externas para piorar, a gente já tem uma cobrança interna tão grande.
Qto a culpa das nossas mães, acho que elas sentiam, mas iam contar para os filhos? never!! :-) E adoro as "definições" da desciclopedia hahaha
Bjoks.
PS: Tô de volta às blogagens: http://tentativaerroexperiencia.blogspot.com/
Hegli disse…
Ai Taís, que saudade dos seus posts, putz grila...
Estou numa fase de culpa mor ultra mega blaster master. Fui convidade para trabaçhar e era uma proposta irrecusável mesmo, em todos os aspectos... ele está reagindo pessimamente, mesmo eu tendo horários flexiveis.
Ainda não me chamou de vadia, kkkk, e espero que nem o faça pq eu ficaria com a opção da tijolada ;) brincadeirinha.
Mas anda hora me atacando, ora se fazendo de vítima. E para completar, desde que comecei ele está doente, com uma crise de bronquite infinita.
Fala sério, mãe deveria ter um coração blindado, não?
Bjus
Hegli
Carolina Pombo disse…
eeee mundinho difícil pra ser mãe!!!

Saudades Taís! Seus textos são sempre luz em meus dias! Obrigada.

Beijos
Aqui a palavra de ordem do ser de quase oito anos é "maldita". Eu precisava de um tratado pra explicar a carga negativa da palavra, né? Difícil...
Oi Tais, olá meninas,

Estou matutando uma frase já há bastante tempo e esse post veio a calhar.

A frase é de um psicanalista contemporâneo de Freud chamado Bion:

"IMATURIDADE,CONFUSÃO,DESAMPARO e IMPOTÊNCIA são substituídos naqueles que são intolerantes à frustração, por PREMATURIDADE,ORDEM, ONIPOTÊNCIA e PODER."

Imagino que aqueles que suportem a frustração de uma maneira menos infantil sintam-se igualmente IMATUROS, CONFUSOS, DESAMPARADOS E IMPOTENTES, mas ao optar por um comportamento mais racional, tranquilo e assertivo acabam rumando à MATURIDADE, ESCLARECIMENTO E CONFIANÇA EM SI MESMOS.

E a sua experiência, Tais, retrata muito bem esse processo. E os comentários revelam que educar uma criança hoje é uma jornada repleta de episódios de frustração de ambos os lados, da criança e do adulto.

Agora veja que fabuloso (eu disse fabuloso e não fácil): se como adultos conseguirmos, aos poucos, aprender a lidar com as nossas frustrações de uma maneira mais adequada, estaremos de um lado, nos tornando pessoas mais equilibradas, menos prisioneiras das emoções e ainda de quebra ensinando aos nossos filhos como lidar com a tal da frustração!

Beijos a todas!
Doralice disse…
Oi Thais, tem um tema que está no blog mamíferas que discute sobre o uso da violência " tapa no bumbum", como forma de educar as crianças. A escritora Denise Dias escreveu um livro defendendo essa prática; pessoalmente não concordo, penso que educação passa pelo respeito e pelo afeto. Se vc tiver um tempinho dá uma lidinha no texto da tatá e depois nos presenteie com um texto seu! Abraços