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Mostrando postagens de 2015

A Lista de Schindler escolar

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Algumas escolas pedem que os alunos elaborem um “sociômetro” quando é necessário mesclar diferentes turmas. A proposta, teoricamente, é muito simpática: cada criança elabora uma lista com 4 amigos. Essa lista serve para ajudar os educadores a montar as novas turmas, garantindo pelo menos um ou dois amigos por criança nas novas classes para que ninguém mude de turma sozinho. Tudo muito lindo, certo? Só que não. O que era para ser apenas um guia, acabou se transformando numa tortura infantil. Crueldade pura. Conversei com uma educadora que já estudou o sociômetro. Ela defende que a ferramenta seja usada, desde que não se revele aos estudantes o objetivo: “Pessoal, vamos falar sobre a amizade...sobre a importância dos amigos na nossa vida...blá, blá, blá...agora vamos escrever o nome de amigos queridos....”. E assim, as crianças elaboram as listas com sinceridade, sem saber o real propósito da atividade. Sacanagem com as crianças? Não. A educadora explica que um dos motivo

Pré-esposa

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Mozão, Eu sei que você até hoje não entende porque fico tão brava quando você dá uma “pré” nas tarefas que dividimos na casa. Imagino que realmente seja difícil lidar com meus surtos toda vez que você encara uma pia cheia de louça suja e, vinte minutos depois afasta-se, deixando-a ainda repleta de louça para lavar: “Dei uma pré-lavada”. “COMO ASSIM PRÉ-LAVADA?!”. “Ué, dei uma enxaguada pra depois ficar mais fácil.” “FÁCIL PRA QUEM? ”. Você engasga e a louça começa a voar. Ou quando você tira a roupa lavada da máquina e ao invés de pendurá-la, faz uma pilha de roupa molhada sobre o varal de chão, no inovador módulo pré-pendurada. Espano também com as pré-varridas. As varridinhas onde passa o padre, “um quebra galho até alguém dar uma varrida mais profissa.” Mas reconheço que meus pitis pré e pós-arrumação fazem um mal danado ao nosso casamento. Você fica magoado, achando que eu não reconheço sua participação. Eu fico irada, me sentindo uma otária. Então, para acabarmos

Tijolo nos dentes

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Tijolo nos dentes O menino se aproxima: “Mãe, você sabia que o Mc Pedrinho, Mc Brinquedo e o Mc Pikachu estão sendo processados?” A mãe franze a testa. Não tem a menor ideia de quem são Pedro, Brinquedo e Pikachu. Mas cumpre à risca seu papel de mãe interessada. “Jura?! E por quê?” “Porque eles tem doze anos e trabalham. Dão show às três horas da madrugada, acredita? E cantam umas músicas muito nada a ver.” “Como assim nada a ver?” “Ah, mãe…coisa de sexo…posso cantar? Você não me dá bronca?” “Pode.” O menino respira fundo e canta meio titubeante, sem fazer contato visual, “Roça, roça o peru nela que ela gosta…” “Que horror! E onde você escutou isso?” “Mãe, todo mundo escuta. O Fulano, meu amigo, canta o tempo todo. Na frente da mãe dele e até da professora!” A mãe arregala os olhos: “Da professora?!” “É, ela deu a maior bronca. Mas é ele, né, mãe. Eu não faço nem morto, porque sei que você me quebra!” A mãe franze a testa, de novo. Ia

Linda

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Ela era feia.  Tinha um rosto judiado e pernas curtas e finas que pareciam mal encaixadas sob a barriga larga. O sorriso exibia dentes escurecidos, talvez por café ou cigarro. O cabelo preso atrás mostrava a raiz pedindo tinta. A pele exibia vincos do tempo e da vida. Conversamos rapidamente no intervalo de um curso de pães caseiros. Me contou que fazia o curso para começar a vender pães e aumentar a renda. Disse animada que fazia de tudo para viver. Artesanato com bisqui, lembrancinha para batizados e casamentos, arte em feltro, bijuteria e até unha e cabelo no pequeno salão de beleza montado na garagem de casa. Contou que também costurava roupinhas de boneca e nessa hora seus olhos brilharam…adorava recuperar as bonecas que as amigas e vizinhas lhe traziam. Dava banho, passava condicionador no cabelo, maquiava, punha roupa nova, sapatinho, tirava manchas de caneta. Sua última restauração foi uma Dorminhoca linda, que agora fica em cima de sua cama e ninguém pod

Piolhinha

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Piolhinha A classe dos pequenos padecia com uma infestação de piolhos.  Todos os esforços que estavam sendo feitos para resolver o problema pareciam ser em vão. A escola mandava bilhete, os pais tratavam, os piolhentos eram afastados alguns dias e devolvidos sem sequer uma lêndea, mas logo os bichinhos voltavam a atacar sem piedade o couro cabeludo da meninadinha. A mãe não aguentava mais. Sua filha parecia que tinha néctar para atrair piolho. Era mandar pra escola que voltava coçando a cabeça.  Resolve tomar uma atitude. Ela era muito boa nisso. Encontra a professora na porta da sala e, num momento privado, dispara: - Escuta, não é possível isso que está acontecendo! Com certeza tem um foco, alguma criança que a mãe não está tratando. Quem é? A professora olha para um lado, olha pro outro e solta num cochicho:  - A Fulaninha. Você sabe, a mãe dela é supernatural. Tipo super mesmo…não gosta de produtos químicos e se recusa a passar qualquer coisa n

"Ensina-me a proibir"

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"Ensina-me a proibir" Nas escolas e universidades da idade média, tocadas pela Igreja, um conselho de padres e bispos se reúne e decreta: “está proibido o uso dos livros nas salas de aula. Com os livros, nossos alunos se distraem, não prestam atenção, tem acesso a conteúdo inapropriado, compartilham um conhecimento que muitas vezes desconhecemos. Com os livros, perdemos controle.” Mudem a cena para 2015, coloquem os tablets e celulares no lugar dos livros e não é difícil concluir que estamos vivendo a mesma situação.  Enquanto algumas escolas estão incorporando as tecnologias portáteis no seu dia-a-dia, outras estão proibindo seu uso dentro dos muros. Não pode nem no intervalo e nem na saída. O motivo é praticamente o mesmo dos educadores medievais: medo da perda do controle. Aí vem a reflexão: tablets e celulares estão aí e ninguém mais duvida que vieram pra ficar. A internet também está aí e em breve será tão onipresente que as próximas gerações não cons